sexta-feira, 29 de março de 2024

25 DE ABRIL – 50 ANOS – 50 POEMAS

Placard da Escola Secundária; Foto: Luís Moura

O 23º poema, Cantiga de Abril, de Jorge de Sena, exprime a revolta do poeta por um povo e um país, que vivia há muito subjugado a um regime ditatorial, estando oprimido e sem conhecer «a cor da liberdade». Hoje, 50 anos depois da Revolução do 25 de Abril, vivemos em democracia, mas lutemos sempre para que não tenhamos mais de dizer: «Qual a cor da liberdade?». Na verdade, Portugal deve sempre significar e rimar com Liberdade, pois «a cor da liberdade» é, como diz o poeta, «verde, verde e vermelha».

Luís Moura, docente de Português

23. Cantiga de Abril

Às Forças Armadas e ao povo de Portugal
«Não hei de morrer sem saber qual a cor da liberdade»

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste país,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.

Qual a cor da liberdade?
 É verde, verde e vermelha.

Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.

Qual a cor da liberdade?
E verde, verde e vermelha.

Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Jorge de Sena

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