sábado, 6 de abril de 2024

25 DE ABRIL – 50 ANOS – 50 POEMAS

Placard Escola Secundária da Lousa; Foto: Luís Moura

Placard Escola Secundária da Lousa; Foto: Luís Moura

O 31º poema, Pedra Filosofal, de António Gedeão, composto em 1956, ainda durante a ditadura, constitui um texto, em que o poeta afirma e reforça a importância e o papel fundamental do Sonho na vida do Ser Humano: é aquilo que «comanda a vida» e «Que sempre que um homem sonha/o mundo pula e avança/como bola colorida/entre as mãos de uma criança». Foi o sonho de um Portugal Livre, Democrático, que comandou os homens e o povo que fizeram a Revolução do 25 de Abril. Que nunca deixemos de sonhar, para que os valores de Abril não morram, se concretizem e Portugal seja, de facto, um país livre, democrático, desenvolvido.

Luís Moura, docente de Português

31. Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel.
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante, caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança.,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão


Este poema foi musicado e cantado, depois, em 1970, por Manuel Freire, tornando-o bastante conhecido.

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