segunda-feira, 1 de abril de 2024

25 DE ABRIL – 50 ANOS – 50 POEMAS

Placard da Escola Secundária da Lousã; Foto: Luís Moura

Placard da Escola Secundária da Lousã; Foto: Luís Moura

O 26º poema, Explicação do País de Abril, de Manuel Alegre, foi publicado antes do 25 de Abril, na obra Praça da Canção, cuja 1ª edição é de 1965. Aqui, o poeta descreve este «País de Abril» que caracteriza Portugal e os Portugueses desse tempo, em que não havia liberdade, democracia, justiça, instrução… Mas sim tristeza, solidão, sofrimento, aprisionamento, opressão, analfabetismo, «sentinelas», proibição, ilegalidades… No entanto, também vaticina uma mudança, uma revolução, pois neste «País de Abril», os «ventos ensinam aos homens/que não se pode proibir os homens de viver» e «ensinam que o mundo é do tamanho/que os homens queiram que o mundo tenha». Assim foi, assim aconteceu no dia 25 de abril de 1974. Nunca devemos esquecer que, de facto, «não se pode proibir os homens de viver» e «que o mundo é do tamanho/que os homens queiram que o mundo tenha».

Luís Moura, docente de Português

26. Explicação do País de Abril

País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui
tão perto que parece longe.

Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.

País de Abril fica na mágoa de o sabermos perto
e todavia rodeado de fronteiras
País de Abril tem verdes vinhas todavia
estão cercados de muros os caminhos da vindima

Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência decretada.

País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos como veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.

País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias
onde operários erguem as cidades do poema.

Não procurem na História que não vem na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem que basta apenas estender a mão.

País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos para falar aos homens do País de Abril.

Os amantes não podem de mãos dadas
encher as ruas de maçãs e barcos
amar não podem os amantes que o amor
tem estranhas sentinelas no País de Abril.

País de Abril tem estranhas sentinelas.
Todavia seus ventos ensinam aos homens
que não se pode proibir os homens de viver.
País de Abril tem ventos ilegais.

Mais ensinam que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril.

Manuel Alegre, Praça da Canção, 1965

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