sábado, 3 de julho de 2021

Pode a música unir povos separados pelas palavras?



Pedro Neves Sêco (10.º A)

É sabido que a música é universal. Sem palavras, ela pode transmitir-nos ideias e sensações e, se ouvirmos uma canção num idioma que não dominamos, também é possível sermos tocados, despertando em nós alegria ou tristeza, seja qual for a nossa nacionalidade, dominemos ou não a língua que ouvimos.

Quem não se lembra da canção vencedora do Festival da Eurovisão de 2017? “Amar pelos Dois”, apesar de cantada na língua de Camões, almejou ser a mais votada de sempre. Esta é a prova de que as palavras certas, associadas a uma melodia, podem, magicamente, apoderar-se de nós e seduzir-nos, mesmo sem percebermos uma única palavra da letra. Antes de Salvador Sobral, já outros intérpretes portugueses tinham enfeitiçado os apreciadores de música de todo o mundo: Amália Rodrigues, os Madredeus, Mariza…

É curioso pensarmos que, em 1887, um médico judeu publicou a versão inicial de um idioma criado de raiz que tinha como objetivo ser falado e compreendido por todos aqueles que o aprendessem. O Esperanto, assim foi batizada esta nova língua, procurava ser de fácil aprendizagem e tornar-se o mais internacional possível, à semelhança daquilo que é hoje o Inglês. Foram muitas as tentativas, mas, ao longo dos anos, o Esperanto fracassou como língua que pudesse unir os povos.

Em contrapartida, a música nunca deixou de ser o único elo poderoso, capaz de unir os vários e tão distintos povos, até os mais desavindos, como é o caso dos de Israel e da Palestina. A este respeito, vale a pena lembrar um grupo coral que integra elementos dos dois países e que, naturalmente, visa o diálogo e a pacificação. Pode a música acabar com o conflito entre judeus e palestinianos? Talvez não, mas é bonito pensarmos que é através da música que se pode chegar a um entendimento, nem que seja só pelo tempo de uma canção.

No que toca à interação intercultural, basta pensarmos nas muitas versões de “Amar pelos Dois” que podem ser encontradas na internet. Desde franceses a sul-coreanos, passando por holandeses, são vários os exemplos de artistas que se arriscam a cantar em Português, sem perceberem o significado das palavras, mas transmitindo quase com a mesma eficácia as emoções que Salvador Sobral desperta nos seus ouvintes. Com esta canção aconteceu o que já se vira noutros tempos. Seduzido pela música, há quem decida aprender a nossa língua.

Para concluir, não posso deixar de aqui referir que a música é definitivamente universal e não há melhor exemplo do que o disco com sons da Terra que, em 1977, foi enviado pela NASA para o espaço. A bordo da Voyager foram dois discos de ouro tocando sons e canções de forma ininterrupta. O objetivo era dar a conhecer a diversidade cultural, natural e industrial do planeta Terra. De entre os artistas que possíveis povos extraterrestres poderão alguma vez ouvir estão Chuck Berry e Vincent Bach. Será que alguém se lembrou de incluir um fado da Amália? Acredito que os alienígenas haveriam de gostar e, desta forma, a palavra saudade ultrapassaria galáxias.

 No âmbito de CD/10º ano-Port/Inglês; domínio “Interculturalidade”

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