É sabido que a música é universal. Sem palavras, ela pode transmitir-nos ideias e sensações e, se ouvirmos uma canção num idioma que não dominamos, também é possível sermos tocados, despertando em nós alegria ou tristeza, seja qual for a nossa nacionalidade, dominemos ou não a língua que ouvimos.
Quem não se lembra da canção
vencedora do Festival da Eurovisão de 2017? “Amar pelos Dois”, apesar de
cantada na língua de Camões, almejou ser a mais votada de sempre. Esta é a
prova de que as palavras certas, associadas a uma melodia, podem, magicamente,
apoderar-se de nós e seduzir-nos, mesmo sem percebermos uma única palavra da
letra. Antes de Salvador Sobral, já outros intérpretes portugueses tinham
enfeitiçado os apreciadores de música de todo o mundo: Amália Rodrigues, os
Madredeus, Mariza…
É curioso pensarmos que, em 1887,
um médico judeu publicou a versão inicial de um idioma criado de raiz que tinha
como objetivo ser falado e compreendido por todos aqueles que o aprendessem. O Esperanto,
assim foi batizada esta nova língua, procurava ser de fácil aprendizagem e
tornar-se o mais internacional possível, à semelhança daquilo que é hoje o
Inglês. Foram muitas as tentativas, mas, ao longo dos anos, o Esperanto
fracassou como língua que pudesse unir os povos.
Em contrapartida, a música nunca
deixou de ser o único elo poderoso, capaz de unir os vários e tão distintos
povos, até os mais desavindos, como é o caso dos de Israel e da Palestina. A este
respeito, vale a pena lembrar um grupo coral que integra elementos dos dois
países e que, naturalmente, visa o diálogo e a pacificação. Pode a música
acabar com o conflito entre judeus e palestinianos? Talvez não, mas é bonito
pensarmos que é através da música que se pode chegar a um entendimento, nem que
seja só pelo tempo de uma canção.
No que toca à interação
intercultural, basta pensarmos nas muitas versões de “Amar pelos Dois” que
podem ser encontradas na internet. Desde franceses a sul-coreanos, passando por
holandeses, são vários os exemplos de artistas que se arriscam a cantar em
Português, sem perceberem o significado das palavras, mas transmitindo quase com
a mesma eficácia as emoções que Salvador Sobral desperta nos seus ouvintes. Com
esta canção aconteceu o que já se vira noutros tempos. Seduzido pela música, há
quem decida aprender a nossa língua.
Para concluir, não posso deixar
de aqui referir que a música é definitivamente universal e não há melhor
exemplo do que o disco com sons da Terra que, em 1977, foi enviado pela NASA para
o espaço. A bordo da Voyager foram dois discos de ouro
tocando sons e canções de forma ininterrupta. O objetivo era dar a conhecer a
diversidade cultural, natural e industrial do planeta Terra. De entre os
artistas que possíveis povos extraterrestres poderão alguma vez ouvir estão
Chuck Berry e Vincent Bach. Será que alguém se lembrou de incluir um fado da
Amália? Acredito que os alienígenas haveriam de gostar e, desta forma, a
palavra saudade ultrapassaria galáxias.
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