quarta-feira, 6 de abril de 2022

Carta à eterna adolescência


Bruna Santa, 12ºB

Ao mar sombrio que se apresenta à grande turba
                                                                      um dia frio e macilento de fevereiro de 2022

Querida adolescência,

Escrevo-te com certa mágoa, escrevo-te com certo desalento, escrevo-te para voltar a compreender, para desvendar, para crescer. Na realidade, perdemo-la e não mais retornará. Perdemos a esperança, motor da resiliência, motor da criação. Perdemos o encanto e encontrámos somente a deceção e um barco algures vazio
Espera-nos o futuro, vastamente vago, esperam-nos as responsabilidades, os deveres. Espera-nos a luta pelos nossos objetivos e missões. Não temos rumo, há muito que permanecemos à deriva, sem qualquer rota. Navegamos de olhos vendados num mar azul escuro, à beira da solidão. Nada fazemos, tudo esperamos e, no entretanto do momento, o mundo desaba. Ficamos em silêncio total.
Procuramos ecos, reinventamos circunstâncias e, ainda assim, eternamente insatisfeitos, restam-nos memórias de um mundo ao qual nenhum de nós pertence. Perdemos a inocência, a ingenuidade, a doce e fugaz infância. Quem nos dera uma boa manta em que nos pudéssemos proteger e tudo esquecer… Ainda ontem era menina, amanhã serei mulher.
Amanhã, já terei de trabalhar, contar os pequenos trocos que sobram, os do final do mês. Já não falta muito para decidir o futuro.
Vivemos num eterno lamento, porém, parece servir de alento. Num ápice, pouco ou nada crescemos, pouco ou nada preparados.
Mudarei o nome, mas nunca a mentalidade. Permanecerei sempre contigo, em tantas casas, famílias e personalidades distintas.
Despeço-me com perplexidades, dúvidas e inquietações que percorrerão o resto da minha vida.

Imagem:Freepik

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