O 16º poema, Cantata da Paz, de Sophia de Mello Breyner Andresen, foi escrito por Sophia para a vigília pela paz, que decorreu a 31 de dezembro de 1968, na igreja de S. Domingos, em Lisboa. A Cantata da Paz, com música de Francisco Fernandes, foi cantada por Francisco Fanhais e publicada, em 1970, no seu álbum “Canções da Cidade Nova” e, rapidamente, se tornou num dos temas de intervenção que mais se cantaram em Portugal, ficando conhecida pelos primeiros versos, «Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar». De facto, hoje, vivemos um período incerto, com tanta guerra. Por isso, «Vemos, ouvimos e lemos/ não podemos ignorar» continua muito atual e deve servir de inspiração para não ficarmos indiferentes ao que se passa à nossa volta.
Luís Moura, docente de Português
16. Cantata da Paz
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
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