Placard Escola Secundária da Lousã; Foto: Luís Moura
O 48º poema, Os Vampiros, é uma canção, de José Afonso, de 1963, e que pouco depois foi proibida pela censura. De uma forma alegórica apresenta «Os Vampiros» como imagem/símbolo dos poderosos e mais ricos que “chupavam” «o sangue fresco da manada», isto é, exploravam o povo e os mais pobres. Na época, pretendia fazer uma crítica aos governantes associados ao poder instituído da ditadura e do regime salazarista. No entanto, a sua mensagem, nomeadamente o refrão, «Eles comem tudo eles comem tudo/Eles comem tudo e não deixam nada», tornou-se intemporal e aplica-se a todos os que detêm poder político, económico ou outro e se julgam senhores e donos de tudo, aproveitando-se da sua posição privilegiada para explorar os mais pequenos e pobres.
Luís Moura, docente de Português
48. Os Vampiros
No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada [bis]
A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas
São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
José Afonso, 1963
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