quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Doenças mentais

Entrevista realizada ao psicólogo da Escola Secundária da Lousã, Dr. Pedro Tiago

As doenças mentais são condições de saúde que geram várias mudanças nas nossas emoções, pensamentos e comportamentos. Estas doenças, normalmente, estão ligadas a traumas e problemas diversos. As doenças mais graves, mentalmente, são: a depressão, o transtorno efetivo bipolar, o alcoolismo, a esquizofrenia e T.O.C. (de acordo com psiquiatras e psicólogos).

Maria – Qual é o papel do psicólogo na sociedade?
Dr. Pedro Tiago – O papel do psicólogo na sociedade terá muito a ver com a prevenção a nível da saúde mental: na prevenção dos riscos e das patologias que possam ter a ver com a saúde mental e no tratamento das mesmas. É um papel de prevenção e tratamento. É um papel muito importante porque, na condição humana, todos nós precisamos de algum tipo de apoio, a dada altura das nossas vidas, e um psicólogo pode ajudar nesse aspeto, se bem que não há bons psicólogos, existem, sim, bons pacientes.

Maria – Quais são as doenças psicológicas mais comuns?
Dr. Pedro Tiago – É assim: em contexto escolar ou duma forma mais generalista?
Maria – Em geral.
Dr. Pedro Tiago - A depressão é uma doença muito incapacitante e muito comum, nós, na nossa sociedade ocidental, o normal é estarmos em estado depressivo. Porquê? Porque ficamos tristes e angustiados sempre que perdemos alguma coisa que é importante para nós. Pode ser um fiel companheiro, como um animal, pode ser um ente querido, um amigo, uma relação de amor ou de amizade, mudar o sítio onde vivemos…
Quase sempre, quando perdemos uma coisa de que gostamos, ficamos tristes, e assim a depressão acompanha-nos sempre. Agora, ela só é exatamente depressão e doença quando não nos permite ter uma vida normal. A depressão e a ansiedade, que é um transtorno emocional, também nos acompanham sempre, como uma sombra. Estas são as doenças mais comuns, dentro do quadro, assim como a doença bipolar, que tem muito a ver com os comportamentos obsessivos compulsivos, em que, durante um período de tempo, estamos eufóricos e fazemos uma data de asneiras, e no outro, estamos depressivos. Ou seja, vivemos entre os dois lineares: entre o eufórico e o completamente deprimido. Infelizmente, cada vez mais, a nível da doença mental, existe a psicose e o funcionamento além do borderline. Mas sim, são essas as doenças mais frequentes, mas eu diria que a mais comum é a depressão. Dentro da depressão, há várias ramificações, se ela é “major” ou não é, mas isso tem a ver com o grau de incapacidade que causa nas pessoas.

Maria – Devemos falar sobre saúde mental nas escolas ou continua a ser um estigma social?
Dr. Pedro Tiago – Não é tanto como era há uns anos, a nível do preconceito e do estigma social. Devemos falar muito da doença mental porque ela existe. Infelizmente, após dois anos de Covid, muitas coisas que estavam escondidas, e que provavelmente só mais tarde se iriam manifestar no vosso desenvolvimento enquanto pessoas, começaram a aparecer cada vez mais cedo, sinais de maior dificuldade de adaptação na relação com o meio e com os pares, com os colegas. E, sim, deve-se falar porque ela, infelizmente, está presente e, muitas vezes, só se manifesta, por ser desvalorizada, quando as pessoas estão num estado já muito debilitado. Portanto, sim, devemos falar, existe estigma ainda, mas cada vez menos se diz que a psicologia é para os “maluquinhos”, para quem é doido. Ainda estamos a anos-luz do que se passa noutros países, a saúde mental não é privilegiada de todo, a saúde propriamente dita. Quando existe uma patologia de ordem física ou orgânica e uma pessoa vai ao hospital, existem medicamentos para tal. As pessoas continuam a achar que é muito mais incapacitante uma dor numa perna do que uma depressão, quando é exatamente o contrário, a doença mental pode ser muito mais limitativa no bem-estar da pessoa do que uma dor física, e também toda a violência psicológica, muitas vezes, afeta mais um indivíduo do que a violência física, desde que não seja extrema.

Maria – A situação pandémica que se viveu agravou a saúde mental? Quais os cuidados que foram prestados?
Dr. Pedro Tiago – Infelizmente, devido à pandemia, muito do acompanhamento terapêutico que se fazia, começou a ser feito online, se bem que algumas pessoas não perderam este tipo de apoio, mas é totalmente diferente falar presencialmente e através de uma câmara porque não se percebe o comportamento da pessoa e perde-se na relação terapêutica. Tal como eu disse anteriormente, foram evidenciados problemas que, mais cedo ou mais tarde, se iriam revelar e que, devido à pandemia, surgiram mais cedo, quer nos jovens quer nos adultos. Houve pessoas que começaram a funcionar de uma forma mais desorganizada, com muitos medos, muitas fobias, muita ansiedade, relativamente à higiene, à sua integridade física, ao medo de ser infetado, ou seja, quem já tinha uma predisposição relativamente a questões do foro mental viu a sua condição agravada. Imagina: uma depressão que estava camuflada pode ter catalisado, ter aparecido, duma forma mais evidente. Por exemplo, há cada vez maior manifestação ao nível de ataques de pânico em escola, em contexto escolar, há alunos que, devido à ansiedade de desempenho, sempre que têm uma avaliação ou uma ameaça futura que não conseguem definir, guardam tanto para eles aquele alarme, aquela preocupação, que o corpo acaba por manifestar-se com ataques de pânico ou a nível psicossomático, uma manifestação que pode ser física, como a perda de apetite ou a alopécia, que é a perda de cabelo. A nível comportamental, as pessoas cada vez mais andam dum lado para o outro, roem as unhas. A nível social dão-se cada vez menos umas com as outras. A nível cognitivo, encontramos as perdas de memória e o negativismo, pois as pessoas estão sempre a pensar no pior porque a verdade é que, nesta pandemia, muitas pessoas perderam pessoas próximas e pensaram no seu próprio fim, na possibilidade de morrerem, e não estavam preparadas para esta realidade.

Maria – Qual é a importância dum psicólogo ou de um psiquiatra nas escolas
Dr. Pedro Tiago – Muito grande. Na nossa escola, felizmente, o psicólogo não trabalha só com alunos, todos nós, enquanto pessoas, precisamos ou podemos vir a precisar de alguma orientação ou de algum suporte. A vida é difícil, nem todos os dias são bons, às vezes, precisamos de alguém para conversar e para nos ouvir e, infelizmente, há muitas pessoas que estão sozinhas. Nós, na nossa escola, trabalhamos com os assistentes operacionais, com os docentes e com os alunos. E os psicólogos também precisam de psicólogos. Em contexto escolar, é uma mais-valia porque, cada vez menos, são as questões do comportamento que nos preocupam e, cada vez mais, são as questões que têm a ver com a saúde mental dos alunos e de todas as pessoas que fazem parte do contexto escolar que mais importância têm.

Maria – Que tipo de terapias são mais solicitadas pelos doentes?
Dr. Pedro Tiago – É assim, eles não vêm propriamente à procura, eles não sabem, porque existem várias correntes no âmbito da psicologia, a nível do tratamento e na forma como são trabalhados diversos assuntos. Passa muito pela capacidade reflexiva que o psicólogo tem de dar a quem entra, à procura de ajuda, o entendimento de que tem de fazer algumas mudanças na sua vida, se não, as coisas não vão acontecer, se não mudar, acontece sempre o mesmo resultado. O grande processo desta ajuda passa pela ajuda do próprio, ou seja, nós temos de aprender a gostar de nós, com as nossas virtudes, os nossos defeitos, a perceção de que não somos melhores nem piores que os outros, mas, de certeza, seremos mais felizes se formos nossos amigos.

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